sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Jornalismo FC

Na primeira partida das finais do Campeonato Paulista de 2009, Ronaldo deu um drible no horroroso lateral Triguinho e encobriu Fábio Costa na Vila Belmiro. O Corinthians venceu por 3 a 1 por ser um time espetacular, ter um treinador fantástico e por Ronaldo ser um Fenômeno.
Na quinta-feira, Robinho puxa um contra-ataque e encobre o goleiro do Bragantino. O Santos vence por 6 a 3 porque o adversário era horroroso e tinha um péssimo goleiro.
Toda vez que um jornalista esportivo disser que não torce para nenhum clube e que o time dele é o Jornalismo FC, desconfie. Não há jornalista esportivo que não tenha, no mínimo, visto milhares de jogos pela TV. A maioria frequentou estádios, colecionou álbuns de figurinhas, leu as revistas especializadas, teve camisas de clubes e, enquanto a molecada do colégio falava de videogame, eles discutiam as semifinais da Uefa Champions League. E é quase impossível haver uma pessoa que tenha feito tudo isso sem torcer para nenhum time.
Jornalista esportivo é um torcedor como qualquer outro. O problema é que alguns levam essa paixão para as linhas escritas e as palavras ditas. Curiosamente, os que mais adotam essa prática são os torcedores do Jornalismo FC, pois, em nome da ética, da isenção e do profissionalismo, times, jogadores e treinadores podem ser endeusados ou execrados.
Foi essa isenção que fez com que dois textos de uma agência de notícias brasileira chamasse a atenção. Curiosamente, matérias sobre o São Paulo. A primeira, em 2008, após a vitória por 1 a 0 sobre o Fluminense, pela Libertadores (o São Paulo seria eliminado no jogo de volta). Basicamente, a repórter escreveu que o São Paulo era o melhor time do Brasil e o Fluminense fazia uma figuração. Meses depois, outro texto, de outra autoria, descia a lenha no São Paulo, ao ponto de dizer que Dagoberto já deveria ter ido embora do Morumbi. Textos informativos.
Os isentos se esbaldaram em 2009, com as conquistas do Corinthians e as apresentações de Ronaldo. Jornalisticamente, descarregaram a paixão em textos e comentários.
E agora não querem reconhecer que o Santos é o melhor time do Campeonato Paulista. Robinho fez um gol de letra contra o São Paulo, mas a discussão foi a paradinha do Neymar. O assunto nunca foi debatido com tanta seriedade, mas explica-se: a vítima foi Rogério Ceni. O gol foi no São Paulo. E é um absurdo o espetacular São Paulo levar gols, afinal, é o melhor do Brasil, o que melhor contrata, o clube que tem planejamento. Jornalisticamente, claro.
Agora o Santos faz seis gols numa partida, um dos quais por cobertura e tudo é explicado na fragilidade do adversário. Ironicamente, o Mogi Mirim, derrotado pelo Corinthians e por Souza, não era fraco. O Barueri, que levou a virada do São Paulo, não era fraco. Mas a análise é jornalística, imparcial, isenta e profissional, mesmo que o jornalista tenha acordado tarde e, na pressa, sem querer, tenha vestido a camisa do clube de coração antes de escrever. E não era a camisa do Jornalismo FC...

2 comentários :

  1. O jornalismo esportivo, o verdadeiro, é uma paixão. Ele te escolhe. Grande parte da imprensa esportiva de hoje, já foi o torcedor de outrora, grudado com o ouvido no rádio, esperando o grito de gol guardado na garganta.

    A grande diferença está no comprometimento. Assumir ser torcedor de um time não faz um jornalista ser mais ou menos parcial. Porém a sociedade hoje talvez não esteja preparada pra tal revelação. Será?

    PVC é palestra. Não afirma em público, nega se perguntado e diz colaborar com o jornalismo isento. Será mesmo? Ele tenta tanto ser imparcial que toda vez que pode escolher entre falar bem ou mal do Palmeiras, fala mal para que não transborde o seu lado torcedor.

    Do outro lado da moeda, temos o Avallone. A exemplo de tantos outros que tem na mídia, o Roberto não esconde de ninguém que é palmeirense. Ele faz o jornalista-torcedor fanático. O problema é que a segunda parte sobrepõe a primeira e aí é que está o problema.

    Por outro lado, temos o jornalista como o Mauro Beting, que assim como seu pai, não esconde de ninguém o coração palestrino. Não precisa anunciar nos quatro cantos isso, mas volta e meia escreve textos brilhantes de torcedor em seu blog no Lancenet, não se omite se perguntado qual seu time e faz questão de tratar com atenção qualquer que seja o tema sobre o Palestra. Tanto que sempre é lembrado em eventos do clube.

    Talvez o Mauro seja o ponto de equilíbrio, equiparado aos outros dois. A verdade é que o amor ao futebol vem entrelaçado nas cores de um time de coração e não é vergonha nenhum revelar que cores são essas.

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