Muito doido pode ser qualquer coisa.
Para o bem ou para o mal, mas muito doido.
Surpreendente, inesperado, grandioso, mas muito doido.
Foi muito doido abrir o Facebook logo pela manhã.
Priscilla havida ido embora. Lutou, relutou, batalho, tentou até o fim. Perdeu
a batalha, ganhou a guerra, descansou. Cedo demais para descansar. Um descanso
bem vindo para quem lutou tanto.
Não foi surpreendente, nem inesperado. Foi apenas
muito doido. Porque você espera, mas não quer. Sabe que pode acontecer, mas não
quer que aconteça. Sabe que cedo ou tarde vai acontecer, mas não quer que essa
hora chegue. Quer que as horas passem, mas que o fato ali escrito, transcrito e
sacramentado não se torne realidade. Porque ninguém pode ir embora aos 32. Não
quando é vítima de um mal terrível, que ataca, acomete, derruba, castiga. E castiga
a quem não deu motivos para receber castigo, sofrer, penar, lutar, batalhar.
Não é a ordem natural, aquela que diz que filhos enterram os pais. Não é
natural acontecer o contrário. O natural seria Priscilla, já anciã, ao lado dos
filhos e dos netos, entregar Isabel e João ao Grande Criador e a Ele agradecer
pelos anos de cuidado, carinho, afeto, preocupação. Não é natural que Isabel e
João enfrentem esse processo, entregando Priscilla ao Pai.
Não lembrava de Priscilla. Aceitei o pedido de
amizade, vi os amigos em comum. Não reconheci nela uma mulher, casada,
responsável. Priscilla, para mim, era uma menina, continuava a ser. Porque quem
eu vejo crescer não cresce, será sempre menina ou moleque. Priscilla não
cresceu. Pode ter crescido para os outros, para mim era a mesma menina de duas
décadas atrás, que no templo ficava lá nos primeiros bancos, do lado esquerdo
de quem entra, ao lado de meninas da idade dela. Falava pouco com ela. Não por
arrogância deste lado ou má vontade do outro, apenas por uma questão de
diferença de idade, inexistente neste momento da vida, decisivo se tiradas duas
décadas das duas partes. Era alegre, risonha, brincalhona, inocente. Não,
definitivamente não tinha nada a ver com o estilo do lado de cá. Embora por
vezes a vontade fosse ser como o lado de lá.
Priscilla ensinou. E transmitiu um dos melhores
ensinos: rir quando tudo leva a chorar. Falar bonito quando há todos os motivos
para xingar. Demonstrar felicidade quando as circunstâncias levam ao
recolhimento, ao isolamento. Priscilla não parecia ter o que tinha. Não
demonstrava, não deixava ninguém esmorecer. Cantava, louvava, se alegrava e
transmitia alegria. Orgulhosa do marido, que não a deixou nem por um minuto.
Priscilla se foi, mas deixou muita coisa por aqui.
Muita coisa boa. Uma grande lição, por exemplo. Está bem ,melhor que nós, como
na verdade, sempre esteve. Não dá para dizer ‘vá com Deus’ quando, na verdade,
ela já está com Ele.
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