Juro que relutei para falar sobre Richarlyson. Fiquei em dúvida, porque são poucos os que levam a sério quando o assunto é o dito jogador. Mas, desta vez, algumas coisas ultrapassaram os limites.
O que Richarlyson faz ou deixa de fazer com o cabelo dele, é algo que só compete a ele. Particularmente, achei que ficou horroroso, ridículo, mas se ele viu o produto final no espelho e achou bom, problema dele. O que não dá para aceitar é um profissional, em qualquer área, ser ameaçado por conta de uma decisão pessoal e, sobretudo, em uma questão que não muda a vida de ninguém. Richarlyson ser ameaçado por colocar um aplique no cabelo é algo que não tem nome.
Que uma parte da torcida do São Paulo pega no pé do Richarlyson, é público e notório. Mas a ameaça transcende qualquer perseguição, ultrapassa todos os limites. E todo mundo sabe o que motiva essa parcela da torcida (torcida?) a encher a paciência do jogador: a suspeita de que Richarlyson seja homossexual.
Vamos aos fatos: Richarlyson jamais declarou ser homossexual. Muitos alegarão: "ah, mas ele ia dar entrevista para o Fantástico e contar tudo"; "ah, mas tudo leva a crer". Para, para tudo! Sei lá se ele ia conceder entrevista ao Fantástico; não concedeu. E tudo levar a crer deixa só no âmbito da suspeita. Se ele não disse nada, ninguém pode afirmar. Acabou.
E outra coisa: se ele for, e daí? O que muda? Até onde sabemos, o que importa é o cara jogado. Joga bem? Ótimo. Joga mal? Vai pra reserva. Fim de papo. O que faz fora de campo é problema dele, desde que não prejudique o rendimento.
Atitudes como essa são resumidas em duas palavras: falso moralismo. O cidadão que ameaça um jogador por um aplique horroroso não se auto-condena por não tentar arrumar um emprego. Sim, porque o sujeito que tem tempo de protestar no CT numa manhã de terça provavelmente não é um praticante da labuta. Ninguém se condena por abandonar a família (se é que tem) numa tarde de domingo para ir ao estádio.
E o mais curioso: os mesmos que condenam Richarlyson por algo que suspeitam dele são os que deixam de procurar representantes do sexo oposto aos finais de semana para ficar quatro horas ou mais atracado com outros do mesmo sexo nas arquibancadas, gritando o nome dos homens que estão em campo. E o êxtase será se, ao final da labuta, conseguir agarrar a camisa suada de um daqueles homens...