terça-feira, 27 de novembro de 2012

Mas, porém, entretanto

'Sebastian Vettel só chegou onde chegou por ter o melhor carro'.
'Sebastian Vettel só chegou onde chegou por não ter adversários'.
'Quero ver Vettel vencer com um carro inferior'.
Sim, a cultura da diminuição dos méritos é bastante comum.
O camarada está na frente, vence, se destaca, supera, sempre com um 'mas', 'porém', 'entretanto', 'e se'.
O campeão mundial de Fórmula 1 é o cidadão que soma mais pontos ao longo da temporada.
Algum mérito o cara tem que ter.
A Red Bull tem lá sua vantagem em relação aos outros, mas está muito longe de ser a McLaren de 88/89, Williams de 92/93 ou a Ferrari a partir do 5º ano de Schumacher. Havia uma torcida por chuva em Interlagos, que daria uma esperança aos cavalinhos rampantes. 
Um carro perfeito seria o melhor no seco e no molhado.
Vettel foi tri tri, tri seguido. Prost foi tetra, mas não tri seguido. Senna e Piquet foram tri, mas não seguidamente. Só Fangio e Schumacher haviam sido tri. E nenhum deles aos 25 anos.
'Ah, mas todos eles tinham adversários'
Não há como fechar os olhos para Alonso e Hamilton. 
Deixa o menino curtir o momento.
Porque o espetacular Schumacher não tinha adversários, o estupendo Prost não era ousado e o mito Senna enfrentava seus 'mas, porém, entretanto'.
Talvez um dia Vettel tenha seu feito devidamente reconhecido.
Mas não enquanto estiver nas pistas...

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Mesopotâmicas

- Vettel tri tri. Só Fangio e Schumacher foram
- Alonso decepcionado. Para ele, vice é o primeiro entre os perdedores
- Button feliz com a vitória. Não valeu nada, mas e daí?
- Massa chorando com o terceiro lugar
- Hulkenberg na liderança, depois de ser pole em 2010 na mesma pista
- Torcida na arquibancada aplaudindo Vettel e Massa.
- Torcida na arquibancada aplaudindo Rubens Barrichello
- Não saber o que vai acontecer na próxima curva
- Conferir que a aceitação da categoria no Brasil e em São Paulo ainda é grande
- Esperança de novas edições

Três dias, 27 horas

A credencial já foi tirada do peito.
Está em cima da mesa. Deve ficar por ali até a hora da arrumação pré-visita da faxineira, quando será colocada junto com as outras, utilizadas em Interlagos e no Anhembi em um passado não tão recente.
É o fim, acabou, não há mais necessidade.
Jenson Button venceu, Felipe Massa chorou no pódio, Sebastian Vettel foi tri, Michael Schumacher se aposentou de vez.
Não será mais necessário ir a Interlagos, ao menos em 2012, muito menos pela Fórmula 1.
O planejamento envolveu uma série de coisas, daquelas que parecem pequenas mas podem ser decisivas: acordar muito cedo, tentar driblar o trânsito paulistano, sobretudo na sexta-feira, chegar cedo ao autódromo para conseguir um bom lugar no estacionamento, instalação na sala de Imprensa, buscar um lugar próximo dos colegas brazucas, de preferência aqueles mais chegados, conexão com a internet, trabalhar uma barbaridade, saber que de muita coisa dá para tirar uma notícia, escrever um monte até um horário muito depois do fim das atividades na pista, chegar em casa tarde e saber que em poucas horas o processo começa novamente.
O primeiro dia tem suas obrigações: tomar conhecimento dos horários das coletivas dos personagens que interessam ou podem interessar, verificar os horários do almoço na Ferrari nos três dias, ver quais sanduíches há na geladeira da sala de Imprensa, ver se há a opção "café longo" na máquina, sintonizar as rádios para saber se há novidades no paddock. Havendo, correr. Caso contrário, diminuir.
Não foi a primeira vez, foi a terceira. Com a mesma empolgação, sem dúvida, mas aplicando aquilo que foi ensinado nas edições anteriores.
Organização de horários, por exemplo. Anotar a que horas as figuras mais interessantes falam. Foi a primeira cobertura de uma corrida que obrigatoriamente determinaria o campeão, então os dois postulantes deveriam ser ouvidos. Os brasileiros são de praxe e é importante também ouvir o alemão queixudo, porque ele está parando. Quem mais? Ah, Kimi, que voltou neste ano e está na pista onde foi campeão em 2007. Todo esse pessoal só fala após a segunda atividade de cada dia, portanto até lá é hora de ver outras coisas: o tempo, o trânsito, a movimentação dos torcedores nas arquibancadas, o inusitado. O tempo ensinou que há a hora certa de ir ao paddock. É aquela em que você circula, vai de um lado ao outro ou fica em frente à entrada principal. Seja quem for o importante, vai passar por ali. 
Aí começa aquele momento em que você não estranha se Niki Lauda passar ao seu lado. E descobre que Damon Hill é uma simpatia de pessoa. Ou verifica que Eddie Jordan é uma figuraça.
Ah, na hospitality area da Toro Rosso você é bem vindo. Aliás, te tratam tão bem que não se incomodam se você entrar lá e abrir a geladeira. Toro Rosso é o lado B da Red Bull, aliás, com o mesmo nome, só que em italiano.
Digamos que a geladeira, aquela mesma à qual o acesso é livre, fica cheia de...pois é...
Quando os carros vão à pista não há tanta necessidade de ficar no paddock. É bem se ligar nos tempos, desempenho com cada tipo de pneu, possíveis acidentes. Descer, só depois, para milhares de coletivas. Quanto mais importante o camarada for para aquela corrida, mas difícil é chegar até ele. É quando você enfia o braço segurando o gravador e pega as declarações de Lewis Hamilton sem ver a cara dele. 
O trabalho, como eu disse antes, é finalizado muito depois das atividades, invariavelmente com as arquibancadas vazias, sempre com a sensação de que dava para fazer melhor. Mas amanhã eu melhoro.
Desta vez não há amanhã. Há o ano que vem, talvez, vai saber. Fica a lembrança, a realização.
E a credencial será guardada. Ela nem precisou ser mostrada na saída. As catracas haviam sido retiradas. Amanhã não haverá trabalho em Interlagos...