segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Três dias, 27 horas

A credencial já foi tirada do peito.
Está em cima da mesa. Deve ficar por ali até a hora da arrumação pré-visita da faxineira, quando será colocada junto com as outras, utilizadas em Interlagos e no Anhembi em um passado não tão recente.
É o fim, acabou, não há mais necessidade.
Jenson Button venceu, Felipe Massa chorou no pódio, Sebastian Vettel foi tri, Michael Schumacher se aposentou de vez.
Não será mais necessário ir a Interlagos, ao menos em 2012, muito menos pela Fórmula 1.
O planejamento envolveu uma série de coisas, daquelas que parecem pequenas mas podem ser decisivas: acordar muito cedo, tentar driblar o trânsito paulistano, sobretudo na sexta-feira, chegar cedo ao autódromo para conseguir um bom lugar no estacionamento, instalação na sala de Imprensa, buscar um lugar próximo dos colegas brazucas, de preferência aqueles mais chegados, conexão com a internet, trabalhar uma barbaridade, saber que de muita coisa dá para tirar uma notícia, escrever um monte até um horário muito depois do fim das atividades na pista, chegar em casa tarde e saber que em poucas horas o processo começa novamente.
O primeiro dia tem suas obrigações: tomar conhecimento dos horários das coletivas dos personagens que interessam ou podem interessar, verificar os horários do almoço na Ferrari nos três dias, ver quais sanduíches há na geladeira da sala de Imprensa, ver se há a opção "café longo" na máquina, sintonizar as rádios para saber se há novidades no paddock. Havendo, correr. Caso contrário, diminuir.
Não foi a primeira vez, foi a terceira. Com a mesma empolgação, sem dúvida, mas aplicando aquilo que foi ensinado nas edições anteriores.
Organização de horários, por exemplo. Anotar a que horas as figuras mais interessantes falam. Foi a primeira cobertura de uma corrida que obrigatoriamente determinaria o campeão, então os dois postulantes deveriam ser ouvidos. Os brasileiros são de praxe e é importante também ouvir o alemão queixudo, porque ele está parando. Quem mais? Ah, Kimi, que voltou neste ano e está na pista onde foi campeão em 2007. Todo esse pessoal só fala após a segunda atividade de cada dia, portanto até lá é hora de ver outras coisas: o tempo, o trânsito, a movimentação dos torcedores nas arquibancadas, o inusitado. O tempo ensinou que há a hora certa de ir ao paddock. É aquela em que você circula, vai de um lado ao outro ou fica em frente à entrada principal. Seja quem for o importante, vai passar por ali. 
Aí começa aquele momento em que você não estranha se Niki Lauda passar ao seu lado. E descobre que Damon Hill é uma simpatia de pessoa. Ou verifica que Eddie Jordan é uma figuraça.
Ah, na hospitality area da Toro Rosso você é bem vindo. Aliás, te tratam tão bem que não se incomodam se você entrar lá e abrir a geladeira. Toro Rosso é o lado B da Red Bull, aliás, com o mesmo nome, só que em italiano.
Digamos que a geladeira, aquela mesma à qual o acesso é livre, fica cheia de...pois é...
Quando os carros vão à pista não há tanta necessidade de ficar no paddock. É bem se ligar nos tempos, desempenho com cada tipo de pneu, possíveis acidentes. Descer, só depois, para milhares de coletivas. Quanto mais importante o camarada for para aquela corrida, mas difícil é chegar até ele. É quando você enfia o braço segurando o gravador e pega as declarações de Lewis Hamilton sem ver a cara dele. 
O trabalho, como eu disse antes, é finalizado muito depois das atividades, invariavelmente com as arquibancadas vazias, sempre com a sensação de que dava para fazer melhor. Mas amanhã eu melhoro.
Desta vez não há amanhã. Há o ano que vem, talvez, vai saber. Fica a lembrança, a realização.
E a credencial será guardada. Ela nem precisou ser mostrada na saída. As catracas haviam sido retiradas. Amanhã não haverá trabalho em Interlagos...


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