sábado, 26 de maio de 2012

E a TV vai a você

A Globo jamais transmitiu Fórmula 1.
A Globo deu atenção a uma categoria automobilística com predominância europeia e invadida por brasileirinhos defensores dos fracos e oprimidos durante duas décadas.
A Fórmula 1 jamais precisou do Brasil para sobreviver.
A Globo precisou e precisa dos brasileiros para a Fórmula 1 sobreviver no Brasil.
É a audiência. O que vale, o que importa. Só o que interessa. Deu? Continua. Não deu? Tira.
Nem tudo por culpa da Globo.
Porque a Globo não tem responsabilidade pelo fato de três brasileiros se destacarem em sequência. Não tem culpa se um começou a brilhar quando a luz do outro já não era a mesma, o que determinou espaços esclusivos para cada um deles.
Muito por culpa da Globo.
Porque a Globo criou a figura do herói nacional, do ser supremo, daquele que supera a tudo e a todos, dando lições de vida atrás de lições de vida. Do brasileiro que não desiste jamais. Do Davi que vive desafiando e por vezes vencendo os Golias ingleses, franceses, italianos e alemães. Jamais tratou os pilotos de Fórmula 1 brasileiros como...pilotos de Fórmula 1 brasileiros. Porque todos foram e são isso: pilotos de Fórmula 1 brasileiros.
Só que o mundo mudou, o Brasil mudou, a Fórmula 1 mudou, os pilotos brasileiros mudaram.
As potências europeias vivem em crise, a ditadura se fue junto com a inflação galopante no Brasil, em que pesem as desigualdades sociais, que permanecem, a Fórmula 1 viu figuras estranhas no pódio e o Brasil perdeu boa parte da genialidade no cockpit.
Houve quem assumisse a condição de herói nacional quando o último herói nacional saiu de cena ao vivo, em rede mundial. Os carros anteriores e os contratos posteriores não o permitiram tornar-se rei. Houve quem chegasse como quem não quer nada e esteve a uma curva de pegar a condição de herói nacional para si.
E a Fórmula 1 tupiniquim foi sobrevivendo.
Porque havia uns 3 ou 4 da comunidade "só vejo se tiver brasileiro na frente". E há uns 1.000 que gostam de automobilismo.
Só que os 1.000 permanecerão 1.000. Os 3 ou 4 viram milhões se tiverem os desejos atendidos.
E os brasileiros não andam mais na frente.
Não há heróis. Não há alegres manhãs e jovens tardes de domingo. Não se sai na rua na segunda-feira com o orgulho verde-amarelo no peito enquanto procura espaço em meio à multidão do transporte coletivo. Não se elege mais franceses e alemães como personas non gratas.
O que há são contratos a cumprir. Cobrados com rigor a cada cláusula. Custando milhares de euros em cada palavra. E sem proporcionar a menor possibilidade de descumprimento.
Não é o vôlei, que dá para encaixar na grade quando não tiver nada mais importante na manhã de sábado. Não é o Guga vencendo Roland Garros, que basta comprar os direitos para TV aberta e jamais transmitir, apenas para garantir que ninguém transmita e leve a audiência embora.
Com Tio Bernie é assim: assinou, pagou, transmite. Caso contrário...melhor nem saber...
Sem atrações, vamos trazer o telespectador para mais perto.
Não se abre mais a transmissão quando os motores estão ligados. Agora é com 20 minutos de antecedência. Mais um pouco e o fenômeno da Austrália se repetirá.
Será necessário explicar o que é volta de instalação.
Não se abre mais a transmissão do treino quando o cronômetro fica verde. Agora o narrador mostra a sua cara ao Brasil, as entrevistas no paddock têm imagem.
Deu-se um jeito.
Se o Brasil não brilha na Fórmula 1, a Fórmula 1 tenta brilhar no Brasil.
Seja pelos carros ou pelos contratos...

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Mônaco, quinta-feira

Foi sem graça. E não poderia ser diferente.
Mônaco, pelo simples fato de ser Mônaco, é aquela pista que oferece tudo e nada.
O nada está na pista, que nem pista é. O tudo está fora da pista.
Que nem pista é.
Aí você junta um circuito estreito, de baixa velocidade e joga um pouco de água da chuva nele.
Pronto, está aí um treino de quinta-feira
Ah, sim, também tem isso. A sexta-feira de Mônaco acontece na quinta, porque sexta é dia de papagaiadas e afins.
Em outras palavras: endinheirados tietando a pilotaiada.
Enquanto houve um pouco de pista seca, Jenson Button foi o mais rápido, com 1min15s746. O segundo foi Romain Grosjean, com 1min16s138. Em terceiro ficou um tal de Felipe, um que é criticado veementemente por ter nascido.
Mandou 1min16s602.
Bruno Senna ficou em 13º.
Parâmetro para sábado não tem como.
Vai ser aquela história: Vettel, McLarens, Alonso...
Mas sei lá, não é de hoje que vejo a Sauber e a Lotus colocando o bico nessa galeria.
A segunda é questão de tempo.
De um tempo um pouco menor...

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Em e na memória

Vários fios de cabelo estão mais claros que o normal. O mesmo acontece com a barba. Ao ver vários técnicos de futebol, lembro do tempo em que eram jogadores. Alguns eu vi no estádio, outros cheguei a entrevistar.
Em suma: estou ficando velho.
Velho e saudosista.
Nesse segundo quesito, sempre fui um pouco. Gosto de lembrar, reviver. E, de uns anos para cá, com maior intensidade.
Dizem que a idade deixa as pessoas saudosistas.
Mais uma prova...
Houve um tempo, do qual lembro com saudades, em que o futebol não era tão profissional.
Não que hoje seja, mas o sistema anda muito diferente de outros tempos.
Não que o profissionalismo seja ruim, mas tudo que é demais atrapalha. E enjoa.
E havia um tempo em que o torcedor, qualquer torcedor, podia acompanhar o treino de seu time.
Às vezes alguém pedia para ver a carteirinha de sócio, mas na maioria das vezes ninguém estava nem aí.
Era um tempo em que você via os caras de perto, pegava autógrafo, tirava fotos.
Não tinha segurança empurrando. Jogador não acelerava o possante em cima de quem estivesse pela frente. O carro do cidadão ficava do outro lado da rua, todo mundo sabia qual era e ninguém ia lá quebrar o vidro.
Às vezes era preciso esperar um pouco para falar com o jogador, pois ele concedia uma entrevista a algum repórter pentelho que fazia umas 2.624 perguntas. Não tinha (des)assessor vetando tudo...
"Isso deve ser legal. Trabalhar em rádio e no futebol", pensava o moleque que estava lá com o pai, em mais uma manhã de sábado.
Antes, o pai havia lhe mostrado um cidadão que o garoto nunca tinha ouvido falar, mas o pai rasgou elogios.
"Aquele é o Chico Formiga, um dos maiores jogadores que esse clube já viu".
Era estranho ver aquele senhor como grande jogador, grande ídolo. Jogador era o Pita, era o Juary, que estavam em atividade. Curioso saber que, antes deles, alguém tinha feito até mais que eles. Para o garoto, o tal Formiga fazia história comandando os jogadores que estavam em atividade.
Mas ele era o Formiga. E se fez muito pelo Santos, vira ídolo. Ótimo, muito obrigado.
Na quarta vez em que o pai foi mostrar quem era, não precisava mais.
"Já sei, pai. Aquele é o Formiga. Fez muito pelo Santos".
De certa forma, aquilo ficou na mente. Era estranho ver Formiga à frente de outro clube que não fosse o Santos. Mais estranho ainda era vê-lo enfrentando o Santos. Vê-lo como treinador do Santos era como estar próximo de alguém da família. Havia uma química, uma proximidade pessoa/clube.
Formiga parou de treinar. Continuou a trabalhar no Santos. Ajudava a captar talentos. E a lembrança permaneceu.
"Aquele é o Chico Formiga".
O garoto foi fazer o que era legal. Ser repórter e trabalhar no futebol. Só que o tempo havia passado, as idades avançado e chegou a hora de Formiga partir. E do repórter dar a notícia. Não só ao público, como ao presidente do Santos.
Seo Chico se foi. As lembranças ficam. Hoje não dá mais para o torcedor ver os treinos aos sábados. Mas nada vai tirar da memória a hora em que ele passava.
Porque aquele ali era o Chico Formiga...