sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Em 2003

O ano era 2003. Este que vos escreve foi designado para fazer a cobertura de uma partida de futsal, em um dos vários torneios populares existentes na Baixada Santista. Jogo entre categorias menores.
Ao chegar no ginásio, a quase impossível pressão tornou-se bem possível. Pais de jogadores de uma das equipes estavam indignados com uma matéria publicada no jornal naquela data. O texto mostrava que um jogador destacava-se em um outro time, pois fazia a diferença em quadra. O time era um com ele e outro sem ele. "É ele contra o resto? Parece que o campeonato só tem ele", disse um dos pais. "E o pessoal do time dele também não gostou. Parece que ele joga sozinho", disse outro, demonstrando aquele conhecimento de causa que só o achismo é capaz de traduzir.
Minutos depois, em conversa com pessoas mais equilibradas, mais informações sobre o personagem da tal matéria. "É marrento, mas joga muito. Vai longe. Dizem que tem empresário dos grandes de olho nele".
Os times vão para a quadra e o tal garoto da polêmica entra por último. Tênis colorido, faixa na cabeça, parecia querer ser mesmo o centro das atenções. Muita pretensão para quem só tinha 11 anos de idade. Pose e discurso de craque da seleção brasileira. "Quero vê-lo com a bola nos pés", pensei.
O jogo começou. E enquanto a bola rolou, por várias vezes tive a oportunidade de olhar para aqueles pais antes revoltados. Meu olhar indicava a pergunta: "Ele faz tudo isso e vocês acham que não rendia uma matéria?" A abaixada de cabeça deles mostrava a resignação. O moleque era marrento mesmo, muito marrento, por sinal. Mas como jogava! Confirmou o que disse a matéria e fez a diferença.
Não me lembro o placar daquele jogo, mas sei que o time do marrentinho ganhou. Ah, e ele fez, sim, a diferença. Um ou dois gols, não mais do que isso, mas com jogadas geniais e passes precisos. Fazia tudo e passava a bola para o companheiro só concluir as jogadas. Consagrou os colegas. Saiu da quadra aplaudido e reconhecido. Podiam não gostar, mas que o moleque era bom, ah, isso era.
O nome dele? Neymar...

Um comentário :

  1. Ótimo texto!
    Impressionante como todos os craques vêm do futsal... deveria ser obrigatório o começo nas quadras, antes de deixar os marmanjos jogarem no campo. Talvez o nível do futebol fosse melhor.
    Quanto ao Neymar, depois do gol de ontem, sem comentários...

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