sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Máfia do apito: Romildo Correia falou




No dia 27 de novembro de 2005, Santos e Botafogo jogavam na Vila Belmiro. O placar final foi de 2 a 1 para o Santos.
Mas o que chamou a atenção naquela partida não foram os gols dos times que passavam longe da briga pelo título. Por volta dos 20 minutos do segundo tempo, o quarto árbitro entrou em campo, deu um abraço no árbitro principal (Giuliano Bozzano), tirou a camisa e foi embora. Era Romildo Correia, que naquele instante deixava o futebol profissional.
Mais que uma despedida honrosa, a atitude de Romildo foi um desabafo. Ele estava afastado do quadro de arbitragem da CBF, sob suspeita de participar da Máfia do Apito, o escândalo que envolveu o então árbitro Edílson Pereira de Carvalho. O problema é que não havia nenhuma prova que incriminasse Romildo, ao contrário de Edílson, que confessou manipular alguns resultados. Romildo foi afastado sem nenhuma acusação formal.
Nesta semana, a Máfia do Apito voltou à tona. O caso pode prescrever, ou seja, o tempo para que alguém seja formalmente denunciado vai expirar. Como não há no Código Penal nenhum artigo que trate de assuntos desportivos, nenhum dos acusados deve ir a julgamento.
Todo mundo falou em Edílson, tentou requentar o caso, mas quem foi procurar Romildo Correia? Quem? Este que vos escreve.
Hoje, Romildo cursa o 4º ano de Direito e atua em um escritório de advocacia em Osasco, região metropolitana de São Paulo. Ele quer fazer um estágio para se especializar em Legislação Desportiva, mas, voltar a apitar, só em jogos amadores e no showbol.
"Foi uma revolta muito grande, porque faltavam dois anos para eu me aposentar e fui afastado durante três meses, sem que houvesse nada contra mim". Essas foram as primeiras palavras do ex-árbitro.
Mas como Romildo teria sido envolvido? Edílson Pereira de Carvalho, junto com "amigos", havia elaborado uma lista de árbitros que possivelmente ajudariam no esquema de apostas. Algo simples: os caras viam que o árbitro apitaria tal partida, apostavam que determinado time venceria, o árbitro ia para o campo, fazia aquele time vencer por bem ou por mal e depois levava um prêmio (leia-se $$). Romildo iria receber uma proposta nesse sentido.
"Não fui visitado porque o esquema foi descoberto antes. E mesmo se me procurassem, eu não aceitaria. O que me revoltou foi a CBF ter me afastado sem que eu estivesse envolvido. Só por eu estar em uma lista que o Edílson disse em depoimento que existia, me afastaram. Os promotores do caso enviaram um fax à CBF, conversaram com os dirigentes, deixaram claro que eu não tinha nada a ver com isso e a punição foi mantida".
Diante disso, Romildo tomou a decisão de parar. E ao ser escalado para atuar como quarto árbitro na Vila Belmiro, confeccionou em casa uma camiseta com os dizeres: "CBF e FPF, chega de ...". Romildo explica: "Era isso mesmo; chega de palhaçada".
No vestiário da Vila Belmiro, Romildo avisou Giuliano sobre o que ia fazer. Falou também com os presidentes dos dois clubes. Só não falou da camiseta que ia usar. O jogo foi paralisado e retomado após Romildo sair de campo. Era o fim de uma história de 15 anos no futebol. Fim da história de um home que não sofreu nenhuma acusação, mas que foi acusado mesmo assim. Ah...Romildo aina foi suspenso por 120 dias por ter invadido o campo.
Quer mais detalhes sobre o caso? Na edição de segunda-feira, do jornal A Tribuna de Santos.

2 comentários :

  1. Infelizmente ultimamente no Brasil tudo sempre acaba em pizza, o jogo de interesse sempre vai falar mais alto, enquanto a mentalidade do brasileiro aceitar essa podridão nada vai mudar.

    Priscila Pontes

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  2. Sensacional a entrevista. É um desabafo de um cara que teve seu nome envolvido no meio sem nada ter a ver com a palhaçada do Edilson. E que mostra a podridão da arbitragem nacional, onde os juízes, em minha opinião, são os menos culpados. O problema está no comando, na CBF, na FPF que bota um PM pra chefiar arbitragem...

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