sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Fechando a brecha

Ao mesmo tempo em que é apaixonante, cativante e arrasta multidões, o futebol tem lá as suas mazelas.
É um dos poucos, ou arriscaria dizer o único esporte (e por que não dizer atividade) que não pune de forma direta aqueles que não cumprem o objetivo do jogo.
Premia, sim, quem chega com mais frequência, mas não castiga a quem abdica de chegar.
Você não vê um time de basquete sem arremensar. Pode gastar os 24 segundos a que tem direito, mas nunca abandona a jogada que pode lhe valer dois pontos. Não existe time de vôlei que dê três toques na bola e a jogue tranquilamente para a quadra adversária, para que o time de lá dê três toques antes da devolução. Não há tenista que bata devagar na bola somente para o tempo passar.
Porque no vôlei e no tênis as partidas acabam nos pontos.
No apaixonante, vibrante e cativante esporte bretão, passar 90 minutos sem marcar nenhum gol nem sempre é uma tragédia. Ainda mais se você estiver no campeonato de pontos corridos, jogando na casa do adversário. Basta que 'os caras' não marquem e você sai com algum lucro.
O torcedor que pagou ingresso, o cidadão que foi para a frente da TV, a emissora que morreu com milhões para transmitir, esses não precisam de espetáculo. Afinal, que garantias tem o público do cinema de que o mocinho vai vencer o bandido e dar um beijo histórico na menina na cena final? Ou qual certeza tem o espectador do teatro de que o ator do monólogo está em um dia inspirado? Ele já recebeu o dele mesmo. Uma apresentação boa ou ruim não altera em nada a vida dele.
Mas o futebol-arte não é espetáculo. É um jogo. E há a brecha que permite a abdicação do objetivo máximo do esporte.
E se a brecha fosse fechada?
Sim, porque a regra mundial diz que 0 a 0, 1 a 1 ou 4 a 4 são apenas números. Haja o que houver, é um ponto para cada lado e estamos conversados.
E se não fosse?
Porque a vitória poderia valer três pontos e a derrota nenhum. Ok, é do jogo. Mas o empate com gols poderia ser premiado com mais um pontinho. Dois pra lá, dois pra cá. Se ninguém marcar, é um ponto para cada lado.
É só um ponto e pode não fazer diferença...aplique em uma competição por pontos corridos e veja os resultados.
Porque o espetacular Bebeto 3 x 3 Paulinho McLaren na noite dominical e junina de 1992 valeu o mesmo ponto para cada um que o terrível Bahia 0 x 0 Portuguesa na augustina quarta-feira de 2012.
Premiar dois times que foram buscar o resultado até o fim em uma partida em que, quiçá por justiça, não teve vencedor.
Possível é, tudo é possível. Mas pode não ser, se não quiserem...

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