quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Quem ama não trai


Em qualquer empresa séria, um funcionário não tem o direito de dizer abertamente que prefere trabalhar em outro lugar sem que isso acarrete em algum tipo de punição. É como eu chegar à redação dizendo que quero ir para outro jornal, por ser um jornal que eu lia na minha infância, por eu me identificar com os leitores de lá etc, etc...tudo isso na presença da alta cúpula do veículo para o qual presto serviços. Não, dificilmente alguém toma essa atitude.
Vágner Silva de Souza nasceu em 11 de junho de 1984. Naquela época, o Brasil tinha três títulos mundiais e o Palmeiras havia vencido dois Campeonatos Brasileiros. Enquanto crescia no bairro de Bangu, no Rio de Janeiro, Vágner ouvia falar do jejum de títulos que o Palmeiras enfrentava.
Um dia depois de Vágner completar 9 anos de idade, o tal jejum foi para o espaço. Edmundo, Evair & cia conquistaram o Campeonato Paulista. No mesmo ano vieram o Torneio Rio-SP e o Brasileiro. Em 1994, quando Vágner chegou aos 10 anos, o Palmeiras levantou mais um Paulista e o quarto Brasileiro. E o Brasil faturava o tetra nos Estados Unidos.
No ano em que Vágner completou 12, o Palmeiras era campeão paulista de novo, marcando mais de 100 gols. Quando ele fez 14, veio o título da Copa do Brasil e, quando ele tinha 15, viu o Palestra Itália vir abaixo com a conquista da Libertadores.
O Palmeiras já era grande, muito grande em 2002, quando Vágner foi artilheiro do Campeonato Paulista de Juniores. Naquele mesmo ano, ele foi flagrado com uma menina no quarto da concentração do time durante a Copa SP de Juniores. Um clube sério teria dado-lhe o devido bico. Mas existe clube sério no Brasil? Não só ficou como ganhou o apelido que marcaria sua carreira, sua assinatura e seu nome na camisa: Love.
Em 2003, faria o maior Campeonato Brasileiro de sua vida; o da Série B, segunda divisão para os íntimos. Diante de potências como Londrina e Marília, virou ídolo e campeão. Em 2004, foi embora para a Europa. Itália? Espanha? Inglaterra? Não, Rússia.
Cinco anos passaram e ele quis voltar. Parte da torcida o queria, afinal, a Série B é uma conquista inesquecível. Veio a peso de ouro, ganhando mais que todos, sendo atração em jogos nos quais nada fazia. Quem era Cleiton Xavier? E esse tal de Diego Souza? Marcos? O que ele fez nos últimos tempos? O que importava era Vágner Love. Chegou no segundo turno, fez cinco gols e o Palmeiras, líder absoluto, era disparar e ser campeão...nem a Libertadores.
Vágner vira alvo de parte da torcida. Membros da Academia Brasileira de Letras tiveram que largar o trabalho numa tarde de terça para esperá-lo na agência bancária. Para ele, era demais.
Se mandou para o Rio. Lá, viu a Gávea e o escudo do clube do coração; o Flamengo. Disse : É aqui". E disse abertamente. Só esqueceu que em uma gaveta de um escritório em algum lugar da Zona Oeste de São Paulo, há um pedaço de papel com o nome dele escrito. Parece que chamam esse papel de contrato. Dizem que tem uma data lá e que ele só pode ir embora depois desse dia. A não ser que o Palmeiras receba um dinheiro ou pegue um jogador da Gávea. Aí, Love pode ir.
Ah, mas o Flamengo já avisou: nada de Everton. Está certo, afinal, Vágner Love diz que não quer mais jogar no Palmeiras, abandona o clube, declara amor ao outro, passa por cima desse tal de contrato e o Palmeiras ainda se acha no direito de ter direitos? Poderia ser. Em um futebol com tantas inversões de valores, por que o clube traído não pode pensar em ser compensado? A não ser que a tendência seja esta mesma: o certo é fazer o errado...

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