domingo, 27 de novembro de 2011

Piquet, Piquet, Nelson Piquet

Uma vida sem objetivos é uma vida vazia, insossa, burocrática. Viver por
viver é empurrar com a barriga, deixar acontecer, esperar para ver no que
vai dar, no que pode dar.
Objetivos significam desafios, motivações, busca por metas. O caminho até
eles traz alegrias, decepções, vitórias, derrotas, marasmo, euforia.
Não importa qual seja o objetivo. Cada um estabelece o seu, aquele que
considera o mais conveniente para a vida.
Ninguém é bom o suficiente para julgar se seus objetivos são bons ou ruins,
se são importantes ou não, se mudam a vida ou não. Alcançar os objetivos
muda a sua vida e é a sua vida que importa. O outro pode pensar o que
quiser, o problema é dele. Ele não tem o direito de estabelecer objetivos
para você.
Em diversos casos o estabelecimento dos objetivos está diretamente
vinculado à profissão. Produzir algo, trabalhar com os maiores nomes do
meio, estar na capital daquela atividade. São várias possibilidades a serem
respeitadas.
No Jornalismo, os dois objetivos mais comuns são trabalhar em determinada
empresa ou entrevistar determinada pessoa. No Jornalismo Esportivo, é
manter contato com os maiores nomes, seja do próprio Jornalismo, seja do
Esporte.
O garoto passa a infância acompanhando o automobilismo nas manhãs de
domingo.
E ouvindo: "Piquet, Piquet, Nelson Piquet".
A mãe do garoto, preocupada em cumprir os serviços domésticos e, ao
mesmo, tempo, pensar no almoço daquele domingo, tinha uma preocupação
a menos. Bastava colocar o garoto em frente à TV e colocar um prato com
bolachas ao lado.
Eram duas horas de sossego garantido.
Jamais deixaria o menino sozinho em casa, mas poderia, se fosse o caso.
Diante do que via, ele jamais ousaria sair daquele sofá.
No dia seguinte e em tantos outros, o chão da casa da avó se transformava
em autódromo, com um circuito que tinha sempre o mesmo traçado: quatro
curvas para a esquerda, duas para a direita e retas longas, por onde um
único carro rasgava. Um carro simples, barato, de plástico, sem tecnologia
alguma, mas suficiente para ser conduzido pela mão esquerda, enquanto a
direita empunhava uma caneta, naquele instante transformada em microfone,
utilizado para a narração de uma pseudo corrida.
"Vem Mansell, Prost encosta, Niki Lauda vem por fora, Keke Rosberg chega,
mas Nelson Piquet passa e vence!! Piquet, Piquet, Nelson Piquet!!"
Os anos passam, o garoto cresce, a avó se vai, a casa não é mais
frequentada. A opção pelo Jornalismo o leva à cobertura esportiva, com
prioridade para o futebol. O automobilismo está lá, chamando, convocando.
E o objetivo bate à porta.
"Piquet, Piquet, Nelson Piquet".
Um mal humorado, que destrata a Imprensa e diz que jornalista não sabe
nada de automobilismo.
Será? Pode ser um cara autêntico, verdadeiro, que não manda recados.
Piquet está mais velho e incrivelmente mais manso. Pudera, passaram 20
anos de sua saída da Fórmula 1, 24 do último título e 30 do primeiro.
É o homenageado em Interlagos.
O garoto, agora não mais garoto, já matou um objetivo: está em Interlagos.
Gravador em mãos, diante dele. O balançar da cabeça indica: sim, ele aceita
ser entrevistado. Responde às perguntas com a velha ironia, mas sem
irritação nem ofensas, mas sim com respeito. Percebe que o entrevistador
conhece um pouquinho que seja.
Entrevista curta, mas e daí? É uma entrevista, isso que importa.
Sim, as manhãs de domingo passaram nas lembranças. O chão da casa da
avó foi visto. E ele estava ali, diante do antes garoto.
"Piquet, Piquet, Nelson Piquet".
O objetivo está garantido.
Agora falta escrever um livro e plantar uma árvore.
Já estou em busca das sementes para a árvore...

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