Vários fios de cabelo estão mais claros que o normal. O mesmo acontece com a barba. Ao ver vários técnicos de futebol, lembro do tempo em que eram jogadores. Alguns eu vi no estádio, outros cheguei a entrevistar.
Em suma: estou ficando velho.
Velho e saudosista.
Nesse segundo quesito, sempre fui um pouco. Gosto de lembrar, reviver. E, de uns anos para cá, com maior intensidade.
Dizem que a idade deixa as pessoas saudosistas.
Mais uma prova...
Houve um tempo, do qual lembro com saudades, em que o futebol não era tão profissional.
Não que hoje seja, mas o sistema anda muito diferente de outros tempos.
Não que o profissionalismo seja ruim, mas tudo que é demais atrapalha. E enjoa.
E havia um tempo em que o torcedor, qualquer torcedor, podia acompanhar o treino de seu time.
Às vezes alguém pedia para ver a carteirinha de sócio, mas na maioria das vezes ninguém estava nem aí.
Era um tempo em que você via os caras de perto, pegava autógrafo, tirava fotos.
Não tinha segurança empurrando. Jogador não acelerava o possante em cima de quem estivesse pela frente. O carro do cidadão ficava do outro lado da rua, todo mundo sabia qual era e ninguém ia lá quebrar o vidro.
Às vezes era preciso esperar um pouco para falar com o jogador, pois ele concedia uma entrevista a algum repórter pentelho que fazia umas 2.624 perguntas. Não tinha (des)assessor vetando tudo...
"Isso deve ser legal. Trabalhar em rádio e no futebol", pensava o moleque que estava lá com o pai, em mais uma manhã de sábado.
Antes, o pai havia lhe mostrado um cidadão que o garoto nunca tinha ouvido falar, mas o pai rasgou elogios.
"Aquele é o Chico Formiga, um dos maiores jogadores que esse clube já viu".
Era estranho ver aquele senhor como grande jogador, grande ídolo. Jogador era o Pita, era o Juary, que estavam em atividade. Curioso saber que, antes deles, alguém tinha feito até mais que eles. Para o garoto, o tal Formiga fazia história comandando os jogadores que estavam em atividade.
Mas ele era o Formiga. E se fez muito pelo Santos, vira ídolo. Ótimo, muito obrigado.
Na quarta vez em que o pai foi mostrar quem era, não precisava mais.
"Já sei, pai. Aquele é o Formiga. Fez muito pelo Santos".
De certa forma, aquilo ficou na mente. Era estranho ver Formiga à frente de outro clube que não fosse o Santos. Mais estranho ainda era vê-lo enfrentando o Santos. Vê-lo como treinador do Santos era como estar próximo de alguém da família. Havia uma química, uma proximidade pessoa/clube.
Formiga parou de treinar. Continuou a trabalhar no Santos. Ajudava a captar talentos. E a lembrança permaneceu.
"Aquele é o Chico Formiga".
O garoto foi fazer o que era legal. Ser repórter e trabalhar no futebol. Só que o tempo havia passado, as idades avançado e chegou a hora de Formiga partir. E do repórter dar a notícia. Não só ao público, como ao presidente do Santos.
Seo Chico se foi. As lembranças ficam. Hoje não dá mais para o torcedor ver os treinos aos sábados. Mas nada vai tirar da memória a hora em que ele passava.
Porque aquele ali era o Chico Formiga...
Muito legal o texto, Paulo...Mais uma parte da nossa memória futebolística que se vai...
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