A Globo jamais transmitiu Fórmula 1.
A Globo deu atenção a uma categoria automobilística com predominância europeia e invadida por brasileirinhos defensores dos fracos e oprimidos durante duas décadas.
A Fórmula 1 jamais precisou do Brasil para sobreviver.
A Globo precisou e precisa dos brasileiros para a Fórmula 1 sobreviver no Brasil.
É a audiência. O que vale, o que importa. Só o que interessa. Deu? Continua. Não deu? Tira.
Nem tudo por culpa da Globo.
Porque a Globo não tem responsabilidade pelo fato de três brasileiros se destacarem em sequência. Não tem culpa se um começou a brilhar quando a luz do outro já não era a mesma, o que determinou espaços esclusivos para cada um deles.
Muito por culpa da Globo.
Porque a Globo criou a figura do herói nacional, do ser supremo, daquele que supera a tudo e a todos, dando lições de vida atrás de lições de vida. Do brasileiro que não desiste jamais. Do Davi que vive desafiando e por vezes vencendo os Golias ingleses, franceses, italianos e alemães. Jamais tratou os pilotos de Fórmula 1 brasileiros como...pilotos de Fórmula 1 brasileiros. Porque todos foram e são isso: pilotos de Fórmula 1 brasileiros.
Só que o mundo mudou, o Brasil mudou, a Fórmula 1 mudou, os pilotos brasileiros mudaram.
As potências europeias vivem em crise, a ditadura se fue junto com a inflação galopante no Brasil, em que pesem as desigualdades sociais, que permanecem, a Fórmula 1 viu figuras estranhas no pódio e o Brasil perdeu boa parte da genialidade no cockpit.
Houve quem assumisse a condição de herói nacional quando o último herói nacional saiu de cena ao vivo, em rede mundial. Os carros anteriores e os contratos posteriores não o permitiram tornar-se rei. Houve quem chegasse como quem não quer nada e esteve a uma curva de pegar a condição de herói nacional para si.
E a Fórmula 1 tupiniquim foi sobrevivendo.
Porque havia uns 3 ou 4 da comunidade "só vejo se tiver brasileiro na frente". E há uns 1.000 que gostam de automobilismo.
Só que os 1.000 permanecerão 1.000. Os 3 ou 4 viram milhões se tiverem os desejos atendidos.
E os brasileiros não andam mais na frente.
Não há heróis. Não há alegres manhãs e jovens tardes de domingo. Não se sai na rua na segunda-feira com o orgulho verde-amarelo no peito enquanto procura espaço em meio à multidão do transporte coletivo. Não se elege mais franceses e alemães como personas non gratas.
O que há são contratos a cumprir. Cobrados com rigor a cada cláusula. Custando milhares de euros em cada palavra. E sem proporcionar a menor possibilidade de descumprimento.
Não é o vôlei, que dá para encaixar na grade quando não tiver nada mais importante na manhã de sábado. Não é o Guga vencendo Roland Garros, que basta comprar os direitos para TV aberta e jamais transmitir, apenas para garantir que ninguém transmita e leve a audiência embora.
Com Tio Bernie é assim: assinou, pagou, transmite. Caso contrário...melhor nem saber...
Sem atrações, vamos trazer o telespectador para mais perto.
Não se abre mais a transmissão quando os motores estão ligados. Agora é com 20 minutos de antecedência. Mais um pouco e o fenômeno da Austrália se repetirá.
Será necessário explicar o que é volta de instalação.
Não se abre mais a transmissão do treino quando o cronômetro fica verde. Agora o narrador mostra a sua cara ao Brasil, as entrevistas no paddock têm imagem.
Deu-se um jeito.
Se o Brasil não brilha na Fórmula 1, a Fórmula 1 tenta brilhar no Brasil.
Seja pelos carros ou pelos contratos...
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