Marcelo Teixeira assumiu a presidência do Santos no finalzinho de 1999, com a responsabilidade e a ânsia de acabar com os 15 anos sem títulos de expressão. De cara, meteu a mão no bolso, colocou R$ 26 milhões no clube e foi às compras: Carlos Germano, Márcio Santos, Rincón, Valdo, Valdir Bigode etc. O título paulista bateu na trave. E só. Trouxe Edmundo e Marcelinho Carioca. Não resolveu.
Esperou quase três anos por uma conquista, que veio com um time montado quase a custo zero, por pratas da casa. Mostrou ao mundo Diego, Robinho, Alex, Elano e Renatinho. O Santos, que há tempos não sabia o que era Libertadores, quase foi campeão.
Veio Luxemburgo, montou um time consolidado e conquistou o Brasileiro de 2004. Auge. Em 2006 e 2007, dois títulos paulistas.
Não existe uma frase ou um só motivo capazes de resumir por quê Marcelo não continuou à frente do Santos FC. São vários motivos que, juntos, formam a palavra "desgaste".
Marcelo conquistou a torcida ao manter um bom relacionamento com as organizadas, deixar a Vila Belmiro bonita e tentar manter um bom contato com o exterior. Valorizou os ex-jogadores do clube, dando-lhes funções no clube e homenageando-os constantemente. Mas, como todo líder, não acertou em tudo. E, no caso dele, o acúmulo de desacertos foi fatal.
Teixeira se eternizou no poder ao alterar o estatuto do clube de uma hora para outra. Tinha a maioria dos conselheiros, capazes de aprovar orçamentos "com ressalvas". Não trouxe a oposição para perto, ao contrário. Se um opositor se manifestasse, era acusado de estar contra o Santos.
As conquistas vieram, é verdade, e o ajudaram a se manter por mais tempo no cargo. Mas nunca é demais lembrar que os quatro títulos foram ganhos com dois treinadores que não se limitam a exercer as atividades para as quais foram contratados. Vanderlei Luxemburgo e Emerson Leão dão palpites em tudo: desde a altura do muro do CT até a vinda de jogadores do Iraty. O Santos nada conseguiu sem eles. Carlos Alberto Silva, Giba, Parreira, Geninho, Cabralzinho, Celso Roth, Oswaldo de Oliveira, Gallo, Nelsinho Baptista, Márcio Fernandes, Cuca, Vágner Mancini...foram apenas treinadores. Não tiraram o Santos do lugar.
Leão e Luxemburgo entraram em atrito com Fábio Costa. Luxa escurraçou Giovanni da Vila Belmiro, mandou Rodrigo Tiuí embora, não segurou Léo Lima nem Luiz Alberto. Preferiu gênios como Vítor Júnior e André Belezinha. E o presidente? Deixava, melhor assim. Paga R$ 1 milhão por mês à comissão técnica e tudo bem.
Nos bastidores, Marcelo foi perdendo aliados. Diretores entregaram os cargos. Conselheiros pediram demissão, inclusive um que não gostou da aprovação do orçamento com ressalvas. O nome dele era Luiz Álvaro.
O biênio 2008/09 foi decisivo. O Santos não foi além de um vice-campeonato Paulista. Quase caiu nos dois Brasileiros. A relação desgastou. Marcelo não tinha mais o controle. Apostou todas as fichas em um projeto montado por Luxemburgo, mas o torcedor estava cansado de Luxemburgo. Não acreditava mais nesses projetos; queria mudança.
Luiz Álvaro, aquele conselheiro que saiu, apareceu como alternativa. Se o projeto era mirabolante, se ele poderia afundar o clube, ninguém sabia. Mas era uma ideia diferente. Aliados a ele, muitos ex-Teixeiristas. Eu mesmo, no dia da eleição, cumprimentei dois deles. E só no sábado foi possível perceber o tamanho do apoio a Luiz Álvaro. E ali deu para imaginar: não seria fácil Marcelo vencer. E não venceu. Luiz Álvaro teve maioria de votos nas 10 urnas.
Como fica o Santos agora? É cedo para dizer. Se Luiz Álvaro vai melhorar ou piorar, não se sabe. O que se sabe é que fará diferente. Marcelo ia fazer igual, mas o torcedor estava cansado de ser igual...