O livro está pronto. Pesquisado, detalhado, contado, escrito.
O prefácio está entregue. A dedicatória principal está na mente. As fotos separadas.
O título brasileiro que o Santos conquistou em 2002 vai muito além da conquista de um campeonato.
E não precisa ser torcedor do Alvinegro para saber.
Corintianos e palmeirenses, que amargaram longas filas, sabem o valor que têm datas como 13 de outubro de 1977 e 12 de junho de 1993.
Tanto quanto o 15 de dezembro de 2002.
E quem não torce para nenhum desses times e simplesmente admira esse esporte que coloca 22 marmanjos tentando acertar um retângulo com um objeto esférico sabe o tamanho que teve essa conquista.
Porque não existiria o futebol-arte, o encanto, a admiração, os raios que insistem em cair no mesmo lugar de tempos em tempos se não amanhecesse um dia de sol depois de 18 anos de tempestades, se um furacão denominado Ricardinho não provocasse um arraso no que ainda restava de terra ao encontrar uma brecha, um cantinho praticamente invisível no anoitecer do frio e cinzento 13 de maio de 2001 em um Morumbi quase sempre gelado, porém naquele momento aquecido pelas mais de 20 mil vozes corintianas, com um grito em uníssono que não somente entrou pelos ouvidos dos santistas como foi direto para a alma, para lá bater e permanecer, transmitindo a mensagem de que não havia mais esperanças.
Não haveria simbolismo não fossem os 19 meses de geladeira, de ostracismo, de canto da página do impresso, de esvaziamento de cada atividade. Não haveria grandeza não fosse o porte físico franzino daqueles garotos que mal haviam saído do colégio e estudavam noite e dia em busca de uma nota A quando muitos acreditavam que um B levaria à reprovação e ao rebaixamento de série. Certeza que aumentou quando um dos professores auxiliares teve de se ausentar e voltaria somente se os garotos entrassem em recuperação. Chamado de 'Fera', aumentou ainda mais a responsabilidade do Rei da Selva, que naquele momento sabia que no mínimo uma nota 6 iria garantir com aqueles alunos.
Não haveria comoção se a Bacia do Macuco e a Bacia do Mercado não entrassem em festa pela classificação na bacia das almas. Festa para a qual o convite não garantia a companhia da mulher mais bonita na valsa, mas o mestre anunciou que esse seria o objetivo.
Não haveria emoção não fossem os 180 minutos de um sonho que começava a se tornar real diante do triunfo sobre aquele esquadrão que parte da Imprensa apelidou de Real, não fosse o chocolate com cobertura trilegal sobre o excelente Tricolor do Sul e, principalmente, não fosse o reencontro com o time responsável pela maior dor dos últimos anos. A 5ª marcha foi engatada para determinar a quinta vitória consecutiva em partidas disputadas no mesmo ano, sendo que na segunda a molecada disse ao mundo que existia e, na sequência, mandou uma bicicleta e oito pedaladas para atropelar e se consagrar.
Consagração que não caberia em uma página, um caderno, uma série no impresso, que se perderia nos milhares de links, fotos, propagandas e imediatismo da internet, que teria detalhes abandonados no rigor do relógio da grade de programação da televisão.
Virou livro. E com os personagens dessa história contando passo a passo como ela se deu, como foi construída, de que maneira virou realidade.
Está em campanha. Financiamento coletivo. Ninguém é obrigado a nada, faz quem quer, ajuda quem tem vontade.
O link com todos os detalhes e com a possibilidade de apoio está aqui.
A conquista tem um só dono: o Santos Futebol Clube.
Que até agora publicou uma nota no site oficial e nada mais.
Há quem defenda a tese dos títulos com donos, conquistas das administrações.
Há a esperança de que o Santos de hoje não entenda que apoiar uma conquista da administração de ontem seja reconhecer que um bom trabalho 'dos outros' deu resultados.
Até porque muitos frutos do que os outros plantaram foram colhidos posteriormente, pelos 'de hoje'.
E não haveria o Santos de hoje se não houvesse o de ontem, ou o 'dos outros'...
Perfeito, Paulo!
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